Quanto tempo faz que você leu minha última newsletter?
Quanto tempo?
Tempo.
Tenho estado muito pensativo acerca do tempo. O tempo que temos, o que não temos, o que se finge ter; o tempo que escoa pelos dedos e nos põe na roda. Há tempo para tudo, não há? Pois sim, há tempo para tudo, tempo para ser feliz, tempo para tristeza, tempo para voltar a ser feliz, tempo inclusive para os estudos, para descobrir algo; tempo para descobrir-se.
Você já se questionou sobre o tempo? Você já se questionou ‘o tempo’? Você já se questionou se tem tempo? Você já se questionou do tempo perdido?
Há tempo para tudo, e também para parar.
Ah, o tempo. Me faz lembrar o poema de Mário Quintana.
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
O tempo que nos é requisitado a todo instante, a cada instante, de segundo em segundo no contar do relógio biológico e mecânico.
Já pensou? Bem, se ainda não, tenho certeza que agora sim.
O tempo é relíquia. Vale mais que ouro, não vale? Mas é uma relíquia que acaba. Não perder tempo com ódio.
Mas como não perder tempo?
Você tem o mapa? Eu não tenho, não. Nem deve existir, né?
Posso fazer uma pergunta: você tem tempo?
Um segundinho de nada me será valioso. Tem um tempo? Para me escutar? Me ajuda? O tempo está no fim desta newsletter, o teu tempo também, provavelmente vai começar o tempo de outra coisa, e quero aproveitar este instante final entre nós dois.
Ando a pensar num título bacana para meu novo romance — tenho passado meu tempo nele. Em resumo: a história é sobre um rapaz que é autista não diagnosticado, e passa uma vida inteira tendo problemas (que poderiam ser evitados com um diagnóstico) de todos os tipos, de comportamento a compreensão da vida. Trabalho com um provisório, mas que diz muito da ideia: Incompatível. Entanto, já me disseram que o título está muito seco, ou poderia ser um mais adequado. Pensei nos seguintes:
Todo o corpo em colapso
A paixão do anjo incompatível
Nas esquinas do corpo tudo é instável
É possível entender deles algo que está relacionado, sim, ao autismo, e cada um faz jus à história — a terceira é mais simbólica, arrisco dizer poética. Me ajuda?
Viu, você não perdeu tempo. E não perderá ao compartilhar esta newsletter com outras pessoas que precisam do tempo para fazer algo, para conhecer, para parar. Para ajudar.
Meu mais sincero agradecimento pela sua preciosa relíquia. É bom ter você aqui. Até a próxima.
Gratidão.